- As mudanças na
alimentação e no cotidiano do grupo cada vez maior de pessoas capazes de parar
o relógio biológico
Por JULIANA CÂMARA (EMAIL)
A advogada Andrea Folegatti esbanja bons
resultados em circuitos de corrida para amadores: a paixão pelo esporte
alimentada desde criança é a fonte da dedicação para os treinamentos Agência O Globo
RIO — Antes mesmo de começarem, as Olimpíadas de
Londres já lançam novos limites para o corpo humano. Pela primeira vez, a
equipe americana de natação terá nas seletivas duas atletas com mais de 40 anos
— ambas com tempos fabulosos e impensáveis para a sua idade. O Japão poderá
levar um cavaleiro de 70 anos às provas de hipismo dos Jogos. Esses
superatletas são exemplos visíveis e radicais de pessoas que integram o grupo
crescente dos sem-idade. Gente que parece ter muitos anos menos e vive muitos
anos a mais do que as pessoas da mesma idade de duas ou três gerações atrás.
Atletas de elite treinam em condições extremas e alcançam condicionamento
impossível para a maioria dos mortais. Mas pessoas comuns também se beneficiam
dos fatores que geram super-humanos para pódios olímpicos.
O historiador Eric Hobsbawm cunhou o
termo Era dos Extremos para descrever o turbulento século XX. A expressão se
encaixa como uma luva para a diversidade humana dessas primeiras décadas do
século XXI. É fato que o mundo atravessa uma epidemia de obesidade e que
milhões de pessoas têm a qualidade e a expectativa de vida reduzidas em função
das mazelas trazidas pelo excesso de peso. Esta é a grande batalha de saúde
pública deste início de milênio. Porém, em meio aos sete bilhões de habitantes,
há uma parcela considerável de pessoas com saúde jamais alcançada antes em toda
a História da Humanidade. Para especialistas, não há receita mágica ou pílulas
para os sem-idade. A genética tem um peso. Mas a essência está na alimentação e
nos exercícios.
Comida melhor e mais equilibrada é parte importante desta história de
sucesso. Outra é uma mudança fundamental na cronologia da atividade. Há nem tão
pouco tempo assim a maioria das pessoas parava de se exercitar na meia-idade.
Esporte e atividade física eram coisas das crianças e dos jovens. Hoje sabe-se
que a demanda por atividade só aumenta com a idade. Um dos treinadores de Dara
Torres, estrela da natação americana aos 44 anos, diz ser pura matemática. Se
você malhava uma hora por dia aos 20 anos, precisará de duas aos 30 e por aí
vai. Execício é para a vida toda. Coisa que o indiano Fauja Singh sabe muito
bem. Em outubro passado, em Toronto, ele se tornou o primeiro centenário do
mundo a completar os 42,2 quilômetros de uma maratona. Cruzou a linha de chegada
em pouco mais de oito horas. Em Londres, será uma das pessoas a carregar a
tocha olímpica.
O longo percurso percorrido por Singh no Canadá exige capacidade
aeróbica e persistência, condições que os preparadores físicos atribuem à
maturidade. O que limita um bom resultado depois dos 40 anos são atividades que
exigem explosões de força muscular, que realmente diminui com os anos. As
americanas Dara Torres e Janet Evans, com 44 e 40 anos, respectivamente, são
pontos fora da curva. Mas quem escolhe um treinamento mais fundamentado na
resistência, como modalidades de longa duração de corrida e ciclismo, por
exemplo, pode surpreender.
As marcas atingidas por muita gente comum que escolhe praticar exercício
a sério, hoje, se aproximam dos números de competidores. A advogada Andrea
Folegatti, dos Filhos do Vento, foi considerada a melhor corredora amadora do
Brasil no ano passado, aos 35 anos, estampando a capa da revista especializada
“Finisher”. Este ano foi a segunda colocada nos 5K da última edição da corrida
de São Sebastião e está embarcando para Paris, onde correrá a maratona após
vencer em 2011 três etapas do circuito Golden Four, da Asics.
Começar cedo é importante, pois o corpo se condiciona e os resultados
vêm mais rápido, assim como o estímulo para continuar.
— Vejo tudo isso como uma compensação do esforço de muitos anos — avalia
Andrea, apaixonada por esportes desde criança. — Acho que estou melhor hoje, me
cuido mais, entendo que o corpo às vezes precisa descansar.
A possibilidade de criar treinamentos específicos para o perfil de cada
um e otimizar os resultados veio com o desenvolvimento do conhecimento e das
tecnologias da medicina e do esporte, opina o professor de Educação Física
Marcelo Cabral. Roupas, equipamentos e estrutura adequados se tornaram mais
acessíveis recentemente e desempenham um papel importante.
A determinação e a persistência para alcançar objetivos movem um corpo que vence a idade cronológica. Apesar de o cotidiano atribulado muitas vezes jogar contra a dedicação, a frequência dos exercícios deve ser perseguida.
— O mais importante após começar a atividade é não parar. Os maiores
inimigos do condicionamento são as interrupções e a prática mal conduzida —
destaca Ricardo Sartorato, um dos fundadores da assessoria esportiva Filhos do
Vento.
Assim como Andrea, a veterinária Juliana Trindade, de 33 anos, dedica
pelo menos seis dias por semana aos treinos. Juliana se prepara para a meia
maratona e, além de correr, nada no mar e faz musculação. O corpo enxuto revela
a dedicação. Com um filho de 6 anos, ela tem 1,70m de altura e 59 quilos.
Se Juliana e Andrea são beneficiadas pela genética, só estudos mais
detalhados poderiam mostrar. Algumas pessoas realmente têm mais capacidade
cardiorrespiratória e muscular, como o montanhista nepalês Apa Sherpa, de 51
anos, que já subiu o Monte Everest 21 vezes. Mas o treinamento frequente,
independentemente da idade, pode fazer muito pelo indivíduo comum.
Semana passada, um estudo sueco reforçou o papel da atividade física
como principal arma pela longevidade. Pesquisadores mostraram que, em uma hora
de exercício, ocorrem modificações na forma como os genes produzem proteínas
associadas à força e ao metabolismo.
— O estudo também revelou alterações relacionadas à manutenção da força
muscular em idosos — destaca Andrea Deslandes, do Laboratório de Neurociência
do Exercício, da Universidade Gama Filho.
No interior das células ou no funcionamento de todo o organismo, os
benefícios da prática do exercício continuado são incontestáveis. Prevenção de
câncer, diabetes e doenças cardíacas, diminuição do estresse, e aumento de
autoestima e da qualidade do sono entram na lista dos pontos ganhos no dia a
dia.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/saude/a-geracao-dos-sem-idade-4274316#ixzz2OBL5WyNp
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