Qual é o maior fator de risco para o jovem do Brasil?

21 de março de 2013

A geração dos sem-idade

- As mudanças na alimentação e no cotidiano do grupo cada vez maior de pessoas capazes de parar o relógio biológico

Por JULIANA CÂMARA (EMAIL)

A advogada Andrea Folegatti esbanja bons resultados em circuitos de corrida para amadores: a paixão pelo esporte alimentada desde criança é a fonte da dedicação para os treinamentos Agência O Globo


RIO — Antes mesmo de começarem, as Olimpíadas de Londres já lançam novos limites para o corpo humano. Pela primeira vez, a equipe americana de natação terá nas seletivas duas atletas com mais de 40 anos — ambas com tempos fabulosos e impensáveis para a sua idade. O Japão poderá levar um cavaleiro de 70 anos às provas de hipismo dos Jogos. Esses superatletas são exemplos visíveis e radicais de pessoas que integram o grupo crescente dos sem-idade. Gente que parece ter muitos anos menos e vive muitos anos a mais do que as pessoas da mesma idade de duas ou três gerações atrás. Atletas de elite treinam em condições extremas e alcançam condicionamento impossível para a maioria dos mortais. Mas pessoas comuns também se beneficiam dos fatores que geram super-humanos para pódios olímpicos.

O historiador Eric Hobsbawm cunhou o termo Era dos Extremos para descrever o turbulento século XX. A expressão se encaixa como uma luva para a diversidade humana dessas primeiras décadas do século XXI. É fato que o mundo atravessa uma epidemia de obesidade e que milhões de pessoas têm a qualidade e a expectativa de vida reduzidas em função das mazelas trazidas pelo excesso de peso. Esta é a grande batalha de saúde pública deste início de milênio. Porém, em meio aos sete bilhões de habitantes, há uma parcela considerável de pessoas com saúde jamais alcançada antes em toda a História da Humanidade. Para especialistas, não há receita mágica ou pílulas para os sem-idade. A genética tem um peso. Mas a essência está na alimentação e nos exercícios.

Comida melhor e mais equilibrada é parte importante desta história de sucesso. Outra é uma mudança fundamental na cronologia da atividade. Há nem tão pouco tempo assim a maioria das pessoas parava de se exercitar na meia-idade. Esporte e atividade física eram coisas das crianças e dos jovens. Hoje sabe-se que a demanda por atividade só aumenta com a idade. Um dos treinadores de Dara Torres, estrela da natação americana aos 44 anos, diz ser pura matemática. Se você malhava uma hora por dia aos 20 anos, precisará de duas aos 30 e por aí vai. Execício é para a vida toda. Coisa que o indiano Fauja Singh sabe muito bem. Em outubro passado, em Toronto, ele se tornou o primeiro centenário do mundo a completar os 42,2 quilômetros de uma maratona. Cruzou a linha de chegada em pouco mais de oito horas. Em Londres, será uma das pessoas a carregar a tocha olímpica.

O longo percurso percorrido por Singh no Canadá exige capacidade aeróbica e persistência, condições que os preparadores físicos atribuem à maturidade. O que limita um bom resultado depois dos 40 anos são atividades que exigem explosões de força muscular, que realmente diminui com os anos. As americanas Dara Torres e Janet Evans, com 44 e 40 anos, respectivamente, são pontos fora da curva. Mas quem escolhe um treinamento mais fundamentado na resistência, como modalidades de longa duração de corrida e ciclismo, por exemplo, pode surpreender.

As marcas atingidas por muita gente comum que escolhe praticar exercício a sério, hoje, se aproximam dos números de competidores. A advogada Andrea Folegatti, dos Filhos do Vento, foi considerada a melhor corredora amadora do Brasil no ano passado, aos 35 anos, estampando a capa da revista especializada “Finisher”. Este ano foi a segunda colocada nos 5K da última edição da corrida de São Sebastião e está embarcando para Paris, onde correrá a maratona após vencer em 2011 três etapas do circuito Golden Four, da Asics.

Começar cedo é importante, pois o corpo se condiciona e os resultados vêm mais rápido, assim como o estímulo para continuar.

— Vejo tudo isso como uma compensação do esforço de muitos anos — avalia Andrea, apaixonada por esportes desde criança. — Acho que estou melhor hoje, me cuido mais, entendo que o corpo às vezes precisa descansar.

A possibilidade de criar treinamentos específicos para o perfil de cada um e otimizar os resultados veio com o desenvolvimento do conhecimento e das tecnologias da medicina e do esporte, opina o professor de Educação Física Marcelo Cabral. Roupas, equipamentos e estrutura adequados se tornaram mais acessíveis recentemente e desempenham um papel importante.

A determinação e a persistência para alcançar objetivos movem um corpo que vence a idade cronológica. Apesar de o cotidiano atribulado muitas vezes jogar contra a dedicação, a frequência dos exercícios deve ser perseguida.

— O mais importante após começar a atividade é não parar. Os maiores inimigos do condicionamento são as interrupções e a prática mal conduzida — destaca Ricardo Sartorato, um dos fundadores da assessoria esportiva Filhos do Vento.

Assim como Andrea, a veterinária Juliana Trindade, de 33 anos, dedica pelo menos seis dias por semana aos treinos. Juliana se prepara para a meia maratona e, além de correr, nada no mar e faz musculação. O corpo enxuto revela a dedicação. Com um filho de 6 anos, ela tem 1,70m de altura e 59 quilos.

Se Juliana e Andrea são beneficiadas pela genética, só estudos mais detalhados poderiam mostrar. Algumas pessoas realmente têm mais capacidade cardiorrespiratória e muscular, como o montanhista nepalês Apa Sherpa, de 51 anos, que já subiu o Monte Everest 21 vezes. Mas o treinamento frequente, independentemente da idade, pode fazer muito pelo indivíduo comum.

Semana passada, um estudo sueco reforçou o papel da atividade física como principal arma pela longevidade. Pesquisadores mostraram que, em uma hora de exercício, ocorrem modificações na forma como os genes produzem proteínas associadas à força e ao metabolismo.

— O estudo também revelou alterações relacionadas à manutenção da força muscular em idosos — destaca Andrea Deslandes, do Laboratório de Neurociência do Exercício, da Universidade Gama Filho.

No interior das células ou no funcionamento de todo o organismo, os benefícios da prática do exercício continuado são incontestáveis. Prevenção de câncer, diabetes e doenças cardíacas, diminuição do estresse, e aumento de autoestima e da qualidade do sono entram na lista dos pontos ganhos no dia a dia.



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